11 de julho de 2010


BORBOLETA


Ela precisava dar passos largos em direção a si mesma. Mas queria ser dona do tempo. Sentava-se toda tarde para costurar sua colcha de retalhos. Infinita e imensa colcha. Quando ia escurecendo, levantava-se e caminhava até a janela de onde podia contemplar um grande muro de concreto. Mas sua imaginação era como um pássaro e voava alto, conseguia ver do outro lado a imensidão que era a vida fora de si mesma. Ela era uma borboleta e não sabia. Não via como suas cores eram incomuns. Ela tinha algo que a diferenciava de todas as outras. Não saber-se borboleta?! Se ela soubesse que aquela flor que invadia seus sonhos todas as noites realmente existisse... Se ela tivesse certeza... Sua alma fora virgem um dia. Hoje está maculada e sangra. Mas ela é uma borboleta, embora não saiba. Voará. De certo que voará, sem olhar para trás.