26 de janeiro de 2013




O verbo naufraga em silêncio
[como de costume]
E eu, avessa a tudo
Levo comigo o cofre com os meus sete desejos
Não há vírgulas enquanto sigo viagem
Há um único e maldito parágrafo
Que grita sem misericórdia!
E eu! Eu hemorrágica!
Nada estanca os delitos 
Que saem das minhas veias rompidas

Confesso meus homicídios, mas não peço perdão

Há lacunas, há culpa, há sulcos em minha testa
(e há vultos passeando pela minha sala)

Tempo, tempo, tempo


Lembro salmos, provérbios, versículos

Percebo que desenho minha própria caricatura
[e não vejo graça alguma]

Continuo sangrando e quase desfaleço

Apresento os polos da minha versatilidade
Enquanto volto atrás e lembro-me que azar também é palavra
(mas que não se pronuncia)
Tento a sorte, então
E pergunto por deus...
[que mudou de endereço faz tempo]

Vê, Senhor, o meu olhar de súplica!

Trarias de volta a alegria da minha inocência???
E minha alma? Levaria de vez contigo?

Resgata-me com teus tentáculos de piedade

Ou,
Marca pra mim uma audiência com Cristo
Fala que sou poeta.
E desejo que ele escreva o prefácio do meu livro

Livro da Morte


Onde falo das minhas únicas certezas:

Do fim
Da decomposição da matéria
Dos ossos secos
Das minhas mentiras atenuadas pela licença poética

Ai de mim! Ai de mim!


No Livro da Morte 

É onde escondo o meu vocabulário chulo
E os meus medos, os meus enganos, e todo esse meu ódio por ser volátil!
E por estar em um caminho sem volta

Mas há consolo, mas há poesia, mas há canções de amor por toda a parte


Então prossigo

Naufragando com um meio sorriso
Vou reticente...
Sempre.
Até achar o ponto.