27 de fevereiro de 2012
Como se momentos de prazer diluÍssem as horas de solidão.
...
Ser a outra é ser não sei o quê.
Sentir-se especial vestindo roupas de trapo.
É ter que pegar senha para um beijo.
Contar o tempo.
Ficar na fila.
Ouvir o silêncio e permanecer calada.
É sentir o abraço da angústia.
O afago da saudade.
É ter o que não se tem.
É olhar-se no espelho e sentir-se a puta.
A verdadeira puta.
Ser resto, ser escarro, ser nada.
Fazer das palavras um manto para cobrir o frio que a alma sente.
Ouço e guardo as palavras.
Depois cuspo.
Vomito.
Espero.
Sem saber.
Quem realmente sou.
26 de fevereiro de 2012
E o último beijo não teria sido doce...
Não saberia dizer por que o adeus não cabe nos versos. A imensidão das palavras que eu levarei acorrentadas para que não saiam pelos meus olhos. O amor.
Enlaçados pelos dias de saudade eterna.
Sepultando um futuro com terra fervendo, queimando os sonhos, abortando os corações pela boca.
Deito em cacos de vidro esperando que alguém me veja e me socorra e me liberte e me cubra de sangue para a remissão dos meus pecados sem perdão.
Abrir mão do paraíso e voltar ao inferno por ter esquecido a senha. Dar de cara com o diabo que ri da minha e da tua fraqueza e me joga na cara todos os meus poemas ridículos. Faz escárnio, grita o teu nome e joga tuas fotos no fogo eterno.
Dê as costas, suplico!
E livra-me de todo o mal.
Amém.
SINAIS DE FOGO
(Messias Xavier/Sandra Fuentes)
Penso em fazer sinais de fogo
E esperar, como um farol
Que você não se perca
E encontre o seu caminho até mim
...
[Um poeta sem palavras, no som do seu silêncio, sua alma entoa canções na ventania, tocando as nuvens e produzindo chuva que cai no asfalto sem fazer barulho, molhando o chão da rua onde ele tenta, a todo custo, escrever um poema novo.]
Seu silêncio é seu maior grito
O seu grito mais alto
No seu sussurro eu escuto seu grito
Corro, corro para amparar
Tão longe, tão perto
Mas,
O tempo me fará aproximar
Ao menor ruído do teu coração
E atender tuas ânsias
E ser seu
Totalmente
Seu
.........................
[Atenderei aos teus sinais.
Aos signos incandescentes
Que escreves na minha parede branca
Fogo e fumaça.
Gelo e água.
Pedra e areia.
Simbolicamente na simbiose dos versos
Verbalizado nas ondas do teu coração
Onde deixarei uma única estrofe
E tatuarei as letras
Do meu nome...]
(When two worlds collide, an universe can be created)
Sabes que voaria contigo até o infinito
Eu era a leveza e a intensidade de um amor
Os relógios do mundo paravam quando tua boca tocava a minha
Eu sorria ao lembrar que dividia contigo o mesmo universo
Hoje caminho pelas ruas sem mais procurar por ti
Sei onde estás
Sei quem tu és
"Inteiro
Metade
Fragmento
Átomo"
Hoje minha pele é fogo
E queima a tua
Meu coração é nuvem
Partículas de poeira
Perdi os sentidos
E fiquei com uma poça vermelha
Sob meus cabelos
Silêncio.
Respeite os mortos
E vista branco para o funeral
Escreva em minha lápide:
"Eu te amo"
Desenho meus traços em folhas velhas
Descrevo-me em linhas silenciosas
mas
em
novos passos, novos laços e novas sílabas
Se-pa-ra-da-men-te
...
De forma delicada
Como um anjo
Que joga letras ao vento
Esperando que protegerá a si mesmo
de sua poesia funesta
e
dos estragos de uma ventania
causada
por suas próprias asas
23 de fevereiro de 2012
Dias escuros
De sol quente
Inversão de versos
Típicos dos que correm
Atrás de si
Eu junto pedras
Para a reconstrução
Do meu abrigo
Escondo sílabas
No fundo das gavetas
E enquanto eu grito em silêncio,
Só Deus me ouve
Escondo-me na fumaça
Do incêndio causado
(por mim)
Fogo da Culpa
Labaredas do Medo
Chamas da Solidão
Luz intensa do Abandono
Um monólogo em frente à parede branca
Num sussurro que ninguém ouve
(Só)
Desta vez...
Eu prometo
Que vou só
Volto um dia
Pois sei que estarei
De braços abertos a minha espera
19 de fevereiro de 2012
Que um dia as velhas palavras
Amigas de sempre
Me ajudem a soltar os laços
Romper os elos
Rasgar o peito
Gritar meus versos
Colher da vida
Os momentos perdidos
Soltos
Dispersos
E que eu me ampare
No que não digo
(Quando eu escrevo)
E mesmo doendo
Que eu me suporte
E que seja forte
Porque nem eu
Me entendo
...
...
Queres ver o que tenho pra ti?
Pega o café e senta aí
Olha as fotos deste álbum
Conheces esta senhora aqui?
Sou eu, meu querido!
Espantado?
É, meus cabelos sempre negros, verdade... Agora é isso aí.
O meu relógio é diferente, embora eu tenha lhe arrancado os ponteiros pra me fazer de besta.
Não quero que me entenda. Sim, ainda tenho quarenta.
Não ouve direito o que eu digo?
O que o tempo fez contigo?
Ah, claro que eu entendo.
Escutar eu escuto ainda, mas minha miopia...
Esse vestido preto...
Eu não gostava dele, lembra?
Mas, vá, vê outra foto.
E toma o café senão esfria.
O café!
Haja paciência.
Vá olhando as fotos e responda, tu escreves ainda?
Porque, eu, só de vez em quando...
Claro que sou eu na foto. A que está te esperando na esquina desde 2011.
Sim, na esquina. Pensei que desceria num daqueles ônibus. Que nada! Nem passa mais condução por ali, meu velho.
Mas, leva pra ti o álbum. Vê as fotos com calma.
Vou embora e espero te encontrar no passado, mais jovem...
Vai tomar o café frio???
Haja paciência!
18 de fevereiro de 2012
Da parte de ti que eu levei comigo
Senti o pulsar de um amor que tive por alguns instantes
Fui o breu do medo
E fui a luz do sonho de um querer secreto
Senti-lo em mim em uma dimensão maior
Com um rosto e um nome
(Fragilidade e espanto)
No ventre de vidro
Um coração que pulsa
No ritmo dos planos daquilo que não se quer
Do amor por algo que não se deseja
Hoje o sol nasceu vermelho
E despertei com um meio sorriso
Por gerar teu filho em um dia
E vê-lo nascer nas primeiras horas
Em forma de amor
Breve amor
Eterno
Vapor...
Volátil
Teu
Não basta fechar as portas
Alguns pesadelos são como sombras que quebram vidraças
E invadem o espaço curto do tempo
Permaneço simultaneamente
No imaginário dos teus versos
E na realidade dos teus atos
Mas a poesia é forte
E eu me pareço com ela
Aprendi a juntar palavras
Formar frases que parecem fazer sentido
E chamo isso de versos
Hoje acordei
Com letras esparramadas pelo chão do quarto
Recolhi uma a uma
Guardei comigo
Para que sirvam de ponte
Que me levarão até você
Levarei um livro em branco
Meu coração
E os poemas na mão direita
Isso me basta
Eu tenho medo de temporal. Sempre gostei da chuva, do cheiro da terra molhada... Mas as tempestades me apavoram. Durante a infância não havia essa inimizade com os ventos fortes. Eu dançava no ritmo das ventanias. Mas atravessei o mar vermelho com a impetuosidade de quem tem a certeza de chegar a salvo. Não houve tempo. Engoli o mar. E é essa água toda que me apavora. São ondas imensas que saem dos meus olhos.
E não sei nadar.
Não sei ainda...
Que essa água seque com a ventania.
Que eu perca o medo.
E que eu ouça os trovões e veja Deus como o percussionista-mor.
Ritmo e perfeição.
Do outro lado, dançarei novamente ao som das águas...
Embriago-me nas sensações deste amor que me consome. Leva-me toda. Ou parte de minha alma que se quebra. Leve os estilhaços do meu coração de vidro. Toca a minha transparência. Vem comigo. Alçaremos um vôo sobre a cidade. Não tenho asas. Mas venha. Sinta. Perceba que a chuva não nos molha mais. Voe mais alto. Esqueça as asas. Não temos. Vem que a liberdade está do outro lado. Olhe através de mim e verás. Sou transparente. Pode atravessar meu corpo. Ficarei imóvel. Faça a travessia. Estarei do outro lado a tua espera.
Sabes que voaria contigo até o infinito
Eu era a leveza e a intensidade de um amor
Os relógios do mundo paravam quando tua boca tocava a minha
Eu sorria ao lembrar que dividia contigo o mesmo universo
Hoje caminho pelas ruas sem mais procurar por ti
Sei onde estás
Sei quem tu és
"Inteiro
Metade
Fragmento
Átomo"
Hoje minha pele é fogo
E queima a tua
Meu coração é nuvem
Partículas de poeira
Perdi os sentidos
E fiquei com uma poça vermelha
Sob meus cabelos
Silêncio.
Respeite os mortos
E vista branco para o funeral
Escreva em minha lápide:
"Eu te amo"
FRÁGIL
Tenho poucos minutos
Para deixar
Que a fragilidade
Me alcance
E faça dos meus olhos
Espelhos
Que reflitam
A noite passada
E faço pouco caso
Do que sinto
Enquanto a fogueira
Da saudade queima
Meus dedos
Escrevo, escrevo, escrevo
Numa linha tempo-espaço
Uma fonte inesgotável
De mim
Molha minhas mãos inflamadas
Das letras feitas de ausência
Início e fim
Coragem e medo
Azul e negro
Num atalho de enganos
O caminho curto para a felicidade
Faz-se longo agora
Escuro.
E eu
Não iluminaria
Nem que levasse
O sol em minhas mãos
Portanto,
Finda-se o tempo
E os poucos minutos que eu tinha
Para sentir-me assim...
Frágil
DECIFRA-ME
Baixa a guarda
Solta as armas
E,
Divida comigo
Esta metade
Do teu mundo-abrigo
Eu sou
Por um instante
Assim
Blindada por enigmas
(te deixo um mapa em branco)
Siga o vento
Teu instinto
Meu momento
Observa as rosas vermelhas
Que enfeitam minha escrivaninha
Feita de amor reciclado
É onde escrevo memórias
(as minhas)
No meu mundo cíclico
Desça comigo esta escada
Sem degraus
Um
De
Cada
Vez
Não há nada em meus arquivos
Nem nas caixas lacradas
E nas fotos:
O eu-metade
O eu-sem-volta
O eu-pretérito-imperfeito
Julga-me
Pelos meus sorrisos
Pega-me
Por todos os beijos
Leva-me
Pelos meus abraços
Beija meus olhos de novo
Apaga a luz, fecha as janelas
Porque dessa vez
O inverno será breve por aqui...
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