18 de julho de 2010


Um dia farei questão de fazer os versos mais felizes do mundo.
Exaltarei a minha existência e a alegria que me tomará.
Extasiada pelo amor que me invadirá a alma, criarei uma estrofe.
Apenas uma.
Farei um poema eterno.
Não escreverei mais nada.

sandra fuentes

São lágrimas mudas as que deixo cair hoje. Lágrimas que tanto gritavam, hoje caem quietas e tentam passar como riachos silenciosos. Na minha face, agora, há algo que nem eu mesma reconheço. O espelho me pergunta porque choro. Não respondo. Ele insiste e pergunta o que espero tanto. Baixo os olhos. Não sei o que dizer... Deve ser domingo aqui na minha alma.

Fico com o êxtase dos instantes.
Saudades de ti enquanto te beijo de forma desesperada.
Na ansiedade do amanhã deserto...

11 de julho de 2010




MARESIA

Sentada na varanda, observo que caminhas em minha direção e que traz o mar inteiro numa taça que carregas com todo o cuidado. Fixo meu olhar nas ondas que estão em tuas mãos. Aproxima-te e inunda-me e afoga-me e deixa-me à deriva. Quebro a taça e fico com o cheiro da maresia. O que sobra são gaivotas que sobrevoam a minha varanda e procuram por mim. Não me encontram mais...

MARQUISE


Vivo sob uma marquise fabricada com material etéreo. Gostaria de saber se isso me protegeria da chuva que inunda a cidade agora. Deixa-me aqui por hora. Assim está bom. Melancolia passa, amor nem sempre. Desisto, por enquanto, de querer parecer forte. Seria lícito este sentimento? Teria eu o direito de guardar a chave do teu quarto? Não ouço mais os teus passos. Na verdade, nunca ouço quando sobes a escada. Não quero entender o que sinto. Entender não mudaria as coisas. Na verdade eu entendo. O que me incomoda é essa chuva de vento molhando minha roupa nova. Pegue seu amor legítimo pelas mãos, leve-o e guarde-o em local seguro. Espero a chuva passar...


(sandra fuentes)

TEMPO


Talvez eu aguarde mais algumas horas.
Sinto que sou essa areia colorida que brinca nesta ampulheta velha.
E tento ser o tempo.
E sou...
Sou angústia de espera.
Estou sentada no meio fio, no mormaço,
esperando por uma brisa que chega de meia em meia-hora.

Nuvens...
Muitas delas!
O tempo fecha de repente.
E caem ponteiros que inundam o asfalto.
Observo apenas.
Levanto-me encharcada pela chuva.
Da angústia.
Da espera.
Da areia.
Do mormaço.
Dos ponteiros.
Das nuvens.
Do asfalto.
Do meio-fio.
Da ampulheta.
Da brisa.
Do tempo,
Do tempo,
Do tempo...


(sandra fuentes)

EQUAÇÃO



E ela amava de forma estranha.
Ele racionalizava, calculava e fazia equações intermináveis com cada palavra de amor que ela dizia.
Ela amava apenas.
Embrulhava seu coração para presente e o entregava.
O presente ficava ali, num canto, esperando ser aberto.
E ela, absorta em seus delírios, amava.
Não era boa em matemática.
Escrevia poesias nos muros e cantava canções intermináveis.
Vivia a procura de borboletas azuis.
Não se sabe exatamente pra quê.
Ela era amor, versos e melodia.
Tinha pouco tempo para aprender a fazer do seu coração um cérebro.
Deveria pensar rápido para não errar.

Amor, fogo, gelo, números e uma folha de papel.
Tinha cinco minutos para escrever um poema de amor frio.

Não conseguia.

Acho que jamais conseguiria.


(sandra fuentes)

BORBOLETA


Ela precisava dar passos largos em direção a si mesma. Mas queria ser dona do tempo. Sentava-se toda tarde para costurar sua colcha de retalhos. Infinita e imensa colcha. Quando ia escurecendo, levantava-se e caminhava até a janela de onde podia contemplar um grande muro de concreto. Mas sua imaginação era como um pássaro e voava alto, conseguia ver do outro lado a imensidão que era a vida fora de si mesma. Ela era uma borboleta e não sabia. Não via como suas cores eram incomuns. Ela tinha algo que a diferenciava de todas as outras. Não saber-se borboleta?! Se ela soubesse que aquela flor que invadia seus sonhos todas as noites realmente existisse... Se ela tivesse certeza... Sua alma fora virgem um dia. Hoje está maculada e sangra. Mas ela é uma borboleta, embora não saiba. Voará. De certo que voará, sem olhar para trás.

CARTA A UM AMIGO


Ouve, querido amigo, a música que te dedico em letras harmonicamente perfeitas. A sonoridade que tem um reencontro de almas pode-se ouvir por toda a vizinhança. Queria que musicasse os meus versos e que experimentasse a euforia que tento transformar em canção. Fomos poeira, fagulhas, fragmentos, nuvens e tempestade. Passeamos pelo espaço do tempo. Curto. Eterno. Hoje te reconheci, mais uma vez. Fico aqui, inerte, a espera da melodia que enfeitará as minhas letras feitas de saudade. E brindaremos a nós dois com a água da chuva que ficou congelada, esperando esse dia de sol, para que pudesse, finalmente cair.

5 de julho de 2010


ASAS


Chego a gostar da falta que esse amor me faz. Percebo um par de asas em minhas costas. Sinto uma dor que me faz livre, sinto uma angústia que desintoxica. Talvez um poeta saberia transformar em palavras essa tristeza que me faz feliz. Sinta, poeta, o que eu sinto. Tente escrever o motivo de tanta leveza que trago na alma...


LILÁS

O dia amanheceu lilás.
Eu fiz questão de tirar a velha cortina que fazia o meu quarto ficar naquela escuridão _ que mal me fazia enxergar quem eu realmente era.
O que preciso hoje é da poesia que sai pelos meus poros.
Transpiro música.
As lágrimas que hoje escorrem pelo meu rosto são feitas do sal daquele mar.
Daquele mesmo mar que contemplávamos juntos.
Eu achei que ele nunca, jamais mudaria de cor.
Hoje o mar está lilás.
O mundo amanheceu com todas as nuances do roxo entrando pela minha janela.
Hoje sou letra e música.
Vida e morte.
Escrevo para não morrer.
E morro.
Em cada letra, em cada verso, em cada rima que não encontro.
Quando me acho, é festa, mas me perco constantemente.
Principalmente de mim.
E não sei pra quem escrevo mais.
Acho que para alguém que me deixará como epitáfio um poema com todas as cores.


(Sandra Fuentes)