24 de junho de 2010

Hoje senti uma dor profunda na alma. Não lembro de ter sentido algo assim em toda a minha existência. Amargo. Doído. Corrosivo. Aqui escrevo... Então acho que sobrevivi. Tomo agora um cálice da minha própria poesia, fico de pé e sigo rumo à imortalidade.

sandra fuentes



PARÊNTESES




(ÀS VEZES RELEIO O QUE ESCREVO. ACHO TUDO TÃO PARECIDO... TALVEZ SEJA PORQUE EU AINDA NÃO TENHA MUDADO O SUFICIENTE. ANDO MUITO PARECIDA COMIGO NOS ÚLTIMOS MESES.)
S.F.

CASA DE VIDRO



Eu só preciso de uma casa. E que ela seja grande e feita com paredes de vidro. Uma enorme vitrine onde ficarão expostos todos os poemas que te dediquei. Percebendo que fui um amor criado para servir de coluna aos teus fracassos... Presumo que inventei você e tentei rimar teus beijos com as tuas promessas. Mas a casa é de vidro. Posso enxergar o que antes não via. Há uma cortina vermelha em cada cômodo. Fecharei uma a uma. Recolherei os poemas e, finalmente, o livro voltará à estante.
sandra fuentes




19 de junho de 2010


O QUE TENHO

Não basta fechar as portas
Alguns pesadelos são como sombras que quebram vidraças
E invadem o espaço curto do tempo
Permaneço simultaneamente
No imaginário das tuas rimas
E na realidade dos teus atos

Mas a poesia é forte
E eu me pareço com ela
Aprendi a juntar palavras
Formar frases que parecem fazer sentido
E chamo isso de versos

Hoje acordei
Com letras esparramadas pelo chão do quarto
Recolhi uma a uma
Guardei comigo
Para que sirvam de ponte
Que me levarão até você

Levarei um livro em branco, meu coração
E os poemas na mão direita

Isso me basta

TRANSPARÊNCIA

Embriago-me nas sensações deste amor que me consome. Leva-me toda. Ou parte de minha alma que se quebra. Leve os estilhaços do meu coração de vidro. Toca a minha transparência. Vem comigo. Alçaremos um vôo sobre a cidade. Não tenho asas. Mas venha. Sinta. Perceba que a chuva não nos molha mais. Voe mais alto. Esqueça as asas. Não temos. Vem que a liberdade está do outro lado. Olhe através de mim e verás. Sou transparente. Pode atravessar meu corpo. Ficarei imóvel. Faça a travessia. Estarei do outro lado a tua espera.

ESPERA


Talvez um dia

Eu encontre uma palavra que traduza essa imensidão no meu peito

Absorvo os teus pensamentos como figuras mágicas

Chamo de amor...

Desenho em tuas mãos

A saudade de um mundo novo

Tatuando em tua pele segredos nossos

Com tintas de cores diversas

Com as quais escrevo os poemas que te dedico

E marco teu corpo com palavras eternas

Na distância, a melancolia

No silêncio, a poesia

Versos mudos e algemados

O grito abafado de um amor contido

Não diga nada

Espera, ouve o que eu não digo

Pois também tenho saudades

Do futuro

PÁGINAS


Preciso de uma página. Somente uma página. Tornou-se leve a minha poesia feita de absinto. Hoje tomo um cálice de verbos e embriago-me na imensidão que a liberdade me concede. O amor pede espaço, um jardim de tulipas vermelhas com uma música ao fundo. Sento-me à soleira da porta e observo o tempo. Tudo indica que vai chover. Chego a sentir o cheiro da terra molhada vindo com o som das páginas em branco que o vento me traz. Só quero uma. Somos breves e livres. Eu e o poema. Talvez nem precisemos mais de tinta.