25 de agosto de 2009


UMA CARTA PARA DEIXAR NA GAVETA

Sinto um frio percorrer a minha espinha. Uma brisa de sentimentos invade meu quarto e toca o meu rosto. A lembrança do teu perfume me inebria e me aqueço com as recordações do que fomos. Por um breve instante cheguei a sentir novamente a textura da tua pele. Eu te amei. Amei tão desesperadamente que já não me enxergava mais. Sentia que já eras parte de mim, um fragmento da minha alma que reencontrei. Porque amores são reencontros. Pelo menos acredito que sim. E quando te vi pela primeira vez parecia que estava matando a saudade de algo que foi interrompido. Teu amor me fez forte. Eu levitava e não sentia meu corpo. Teu sorriso me transportava para um universo desconhecido. A sintonia perfeita. O tal amor que dilacera, invade, mata e que ao mesmo tempo fortalece. Produzia em mim uma luminosidade que seria capaz de iluminar todo o planeta. Hoje sinto o vazio e não me reconheço. Minha identidade se perdeu naquele último beijo, quando tentei ler o teu olhar e não vi mais meu nome escrito nele. Às vezes te ouço chamar meu nome, mas reconheço minha insanidade, meu delírio. Entorpecida por uma interrupção brusca de um amor construído em mim e por mim, me fecho e fico meio que anestesiada do mundo. Tirei de perto tudo que me lembrava você. Evito olhar. Como alguém que retorna de um funeral. E aqui estou, muda, a alma vestida de preto. Nua, descoberta das ilusões que me confortavam a existência. E sinto um frio percorrer a minha espinha...

16 de agosto de 2009


A MÃO DO VERSO


Não sinto a lágrima escorrer
Quando escrevo
Mas só percebo
Quando ela molha o papel
E aquela mancha que fica
É um carimbo, um sinal
Que os meus versos têm força
E que na minha pausa
No meu cansaço
Mergulho no meu infinito
Como um escafandrista
Que busca vestígios
Na escuridão da alma
E nos escombros de mim
Eu acho a rima que me salva
Me resgata e me faz respirar
Então renasço das cinzas
Tal Fênix
E escrevo
Até morrer de novo


(Sandra Fuentes)

15 de agosto de 2009




ESPELHO



Na insanidade do meu ser
Busco por uma culpa qualquer
Não a encontro...
Talvez esbarre com ela por uma dessas esquinas
Mas, por enquanto, estamos de relações cortadas
De tudo que fui, provei, toquei
Na heresia pura de ser quem se é
Fui santa
Profana

Eu fui mulher
Caminhei leve pelo asfalto de estrelas
Que eu mesma desenhei
Voei feito borboleta
E pousei numa flor de lucidez
Reconheci muitas de mim
Estamos quites: eu e a vida
Mas sinto falta do que farei
Ainda

(Sandra Fuentes)

8 de agosto de 2009


ENTRE LINHAS


Traduza-me
Sinta as letras na minha pele
Perceba nas entrelinhas
O meu alfabeto
Toca-me
Leia-me em braile
Releia...
Em todos os idiomas
Dialetos
Prove meus versos
Meus verbos
O gosto da poesia
Destaque uma frase
Um termo
Rabisque
Rasure
Refaça
Pegue na minha mão
E feche o livro

(Sandra Fuentes)

6 de agosto de 2009


CAÇA-ME


Sinto-me nua
Já tua
O corpo ardente
Quente...
Então prova
Ama-me
Goza
Hoje
Agora
Apressadamente

(Sandra Fuentes)

1 de agosto de 2009

ALMA LEVE


Um poema alegre
Pra cima
Com rima
Bacana, bonito
Com cores
Amores
Com letras
Felizes
Dançando
Num ritmo
Surpreendente pra mim

Com cor de verão
Gosto de cereja
Tons de azul
Rosa e lilás
E que ele seja
Assim “tanto faz”
Que clareie a sala
Ilumine o quarto
E me pegue assim
Contente...

(Sandra Fuentes)

RELENDO

Que um dia as velhas palavras
Amigas de sempre
Me ajudem a soltar os laços
Romper os elos
Rasgar o peito
Gritar meus versos
Colher da vida
Momentos perdidos
Soltos
Dispersos

Que eu me ampare
No que não digo
Quando eu escrevo...
Mesmo doendo
Que eu me suporte
E que seja forte
Porque nem eu
Me entendo

(Sandra Fuentes)